Fragmentos, um possível retorno, uma possível ida e uma gaveta cheia de bilhetes de amor

Café

Ele acordava sempre seis manhas por semana. O que era artimanha das poesias hoje o engolia de raiva. Era sempre o café, o bule, o copo, o coador de pano enferrujado, as silenciosas repetições de seus gestos e seus silêncios. Silêncios. Adorava. Repetia.

Informar o dia, que o dia ia ser daqueles, que deveria seguir por outro caminho, que deveria  pegar  a bicicleta, a barca ou qualquer coisa; pois os documentos precisavam de assinatura, carimbo, dia de aniversário, de ano novo, de natal que desabava. Tudo desabava. Natal dos infernos. Tudo feito com papeis timbrados das felicidades definidas, da vida toda organizada, das horas inúteis na repartição. Do fogo morto que andava nos cartazes de cinema. Do cinema que anda distante da boa e velha realidade.

Era engraçado. Fazer relatórios anuais. Casuais. Sempre da mesma maneira silenciosa que como fazia o café do começo.

Era sua função favorita.

Deveria entregar uns bilhetes e duas cartas endereçadas. Dois amigos. Mesmo nos tempos de hoje, com o advento das grandes velocidades, é das tarefas mais difíceis.

Tipo o silêncio. Dificílimo.

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